Você não consegue 500 milhões de amigos sem fazer alguns inimigos.
Com um slogan desses e uma identidade visual pra lá de sugestiva, já pensamos de cara que há algo de muito podre no reino do Facebook, fundado pelos jovens e (atualmente) bilionários Mark Zuckerberg e Eduardo Saverin. Mas não podemos nos alienar por uma campanha como essa e achar que A Rede Social cumpre a tarefa de desmascarar os bastidores da criação do website mais acessado do mundo.
O roteiro de Aaron Sorkin é fielmente adaptado do livro "Bilionários por Acaso" de Ben Mezrich, por sua vez baseado em entrevistas e documentos reais - em grande parte prestados por Saverin, apenas um dos lados da moeda. Mezrich, com base nesse material e nesse único ponto-de-vista, criou uma ficção recheada de intrigas e traições, mas pouco conclusiva (visto que parte dos processos movidos contra Zuckerberg ainda estão em andamento). Vale lembrar que, obviamente, Zuckerberg não aprovou nem o livro, muito menos o filme. Portanto, não podemos analisar A Rede Social como um filme baseado em fatos reais, já que esses "fatos" vieram apenas de Saverin, o sócio-minoritário. O resultado é claro e previsível: Saverin é a vítima e Zuckerberg é o vilão.
Mas, pensando exclusivamente como uma obra de ficção, temos um filme muito interessante em cartaz atualmente e apontado como um dos principais de 2010. É curioso ver, talvez pela primeira vez, nerds e mauricinhos (que antes protagonizavam comedinhas e suspenses adolescentes) sendo agora o centro das atenções neste drama envolvente dirigido por David Fincher. Sem sombra de dúvida, é a vez da geração Y, e isso pode apontar uma nova tendência na dramaturgia (assim espero).
Com um diálogo ágil, detalhista e, por vezes, confuso, A Rede Social pode assustar ou distanciar o espectador no começo. Principalmente no prólogo, onde uma simples discussão de relacionamento entre o protagonista e sua namorada chega a parecer uma conversa em sala de bate-papo, de tantos assuntos colocados em pauta em tão pouco tempo. Mas logo entendemos que esse, na verdade, é o ritmo de Zuckerberg (num trabalho impecável de Jesse Eisenberg) e nos acostumamos prontamente a acompanhar a cabecinha acelerada deste protagonista em sua saga.
Logo depois dele tomar um pé-na-bunda daqueles bem merecidos, uma idéia surge em sua cabeça e os créditos iniciais aparecem na tela, enquanto ele volta ao campus de Harvard e a trilha, sabiamente sustentada em uma nota durante todos os créditos, "cozinha" a idéia de Zuckerberg até que seja finalmente descarregada em seu computador, originando o machista e "bulínico" (se é que existe essa palavra) Face Mash, um website voltado para avaliar os quesitos físicos das alunas de Harvard. A partir de então, entendemos que na verdade o que move seus pensamentos e atitudes durante todo o filme é a sua carência e frustração em relação às mulheres, em especial, sua ex-namorada. A maior prova disso está na cena final, onde Zuckerberg seis anos mais tarde e alguns bilhões de dólares mais rico, se preocupa apenas em adicionar sua ex no seu perfil do Facebook e termina o filme atualizando a página para ver se já teve resposta.
No miolo, é claro, vemos todo o processo de criação do Facebook e o relacionamento de Zuckerberg com seus co-criadores, em especial o brasileiro Eduardo Saverin, interpretado por Andrew Garfield. Aqui abro um parêntesis bem bairrista: com tantos atores bons brasileiros (alguns reconhecidos internacionalmente, como o Rodrigo Santoro) por que raios pegaram um americano??? E fecho meu parêntesis bairrista dizendo que Garfield está muito bem no papel. Talvez um pouco latinizado demais, e nem precisava já que o perfil do verdadeiro Saverin está longe do latino. (Mas seu sotaque inglês tupiniquim continua até hoje, e por isso sustento que deveriam ter chamado um brasileiro. hehehe)
Como disse no início do post, é claro que o duelo principal está entre o "vilão" Zuckerberg e o "mocinho" Saverin. E, partindo deste ponto-de-vista, temos aliados nesse cabo-de-guerra. Ao lado de Zuzkerberg, outro "vilão" que aparece é Sean Parker, co-fundador do polêmico Napster, numa interpretação convincente e irritante de Justin Timberlake. Talvez a melhor escolha do casting porque o próprio Timberlake (por seus trabalhos musicais anteriores) já tem uma presença cênica irritante e seu papel caiu feito uma luva. Contra Zuckerberg, e não exatamente do lado de Saverin, temos os "mocinhos" gêmeos Cameron e Tyler Winklevoss, vividos pelo belo e loiro Armie Hammer, os dois mauricinhos que encomendaram de Zuckerberg uma rede social para Harvard, a tal rede que teria servido de inspiração para o Facebook. Aqui temos um bom exemplo da conseqüente inversão de papéis que aparece nesta época de geração Y, pois os mauricinhos (outrora galãs) agora se resumem a uma espécie de "louros-burros", sendo os primeiros a supostamente "levar uma rasteira" de Zuckerberg. Enquanto o nerd esperto enche os bolsos de dinheiro e chama a atenção da mulherada, os loirinhos ainda acreditam que ele apenas esteja ocupado trabalhando em sua encomenda, e dedicam seu tempo e (poucos) neurônios única e exclusivamente à prática do remo. E quem abre os olhos deles é um (pasmem!) indiano. Uma das cenas mais curiosas do filme é esta seqüência dos loirinhos remando, remando, sempre para trás, e... perdendo!
Ironias como esta estão presentes em todo o filme e fazem de A Rede Social talvez não um filme excepcional, mas certamente uma referência que pode (e deve) ser marcada em toda a história do cinema. Imperdível!
A REDE SOCIAL
(The Social Network)
Lançamento: 2010 (EUA)
Direção: David Fincher
Elenco: Jesse Eisenberg, Andrew Garfield, Armie Hammer, Justin Timberlake, Bryan Barter, Rooney Mara e Malese Jow
Gênero: Drama
SINOPSE:
Em uma noite de outono em 2003, Mark Zuckerberg, analista de sistemas graduado em Harvard, se senta em seu computador e começa a trabalhar em uma nova idéia. Apenas seis anos e 500 milhões de amigos mais tarde, Zuckerberg se torna o mais jovem bilionário da história com o sucesso da rede social Facebook. O sucesso, no entanto, o leva a complicações em sua vida social e profissional.
Trailer de A Rede Social (2010)
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