Lembro de ir muito aos cinemas do Conjunto Nacional quando eu era criança para assistir as bobagens que eu adorava (Trapalhões, Xuxa etc) e outros filmes que eu pudesse entrar. Aliás, bons tempos aqueles em que a Av. Paulista era lotada de cinemas. Se não me engano, só no Conjunto Nacional eram cinco salas. Enfim... Numa dessas vezes, saindo do Cine Astor onde eu tinha acabado de ver o hilariante "Irmãos Gêmeos", noto no cinema ao lado um cartaz parecido com o daquele filme que tinha acabado de ver. Quase convenci meu pai ou minha irmã (não lembro direito quem me levou naquele dia) a entrar para assistir. Ainda bem que não entrei! Não ia aproveitar um minuto sequer e, provavelmente, este filme ficaria nas minhas lembranças como um dos troços mais chatos que assisti na minha vida (isso aconteceu com "Nas Montanhas dos Gorilas" e até agora não me animei para tentar assistir novamente... rs).
Bem, o filme era Rain Man e acabo de assistir (finalmente). Realmente, não tinha idade nem conhecimento para apreciá-lo como ele deve ser apreciado. Esta pequena maravilha, escrita por Barry Morrow e Ronald Bass, e dirigida por Barry Levinson, não tem nenhum efeito especial.ou piadas engraçadíssimas que prenderiam a atenção de uma criança por mais de 5 minutos. Simples e despretenciosa, também não pretendia levantar a bandeira do autismo e discutir o seu tratamento em hospitais, embora o resultado final seja considerado uma das principais referências sobre o tema no cinema.
Rain Man é um road-movie sobre dois irmãos que não se conhecem (aparentemente). A pureza começa pelo título. Rain Man é como o personagem Charlie, quando criança, entendia e chamava pelo amigo imaginário (na verdade, irmão mais velho) Raymond. Vinte e tantos anos depois, Charlie, deserdado pelo pai recém-falecido, descobre que não tem direito a nada na herança, exceto por um carro velho e um canteiro de rosas. A fortuna (3 milhões de dólares!) fora deixada em testamento para outro herdeiro que ele nem imaginava quem pudesse ser, muito menos que fosse seu irmão mais velho (menos ainda que tivesse um irmão mais velho).
A partir daí uma interpretação superficial nos induziria claramente a escolher um mocinho (o ingênuo e puro autista) e um vilão (o fdp que nunca quis saber do pai e só quer saber da grana) para o filme. O fato é que não há vilão nem mocinho nesse filme. Pensando pelo ponto-de-vista de Charlie, ele teria todo o direito de questionar sua herança, apesar de esquecer totalmente da existência do pai. Afinal, nunca lhe disseram que tinha um irmão e este, herdeiro da fortuna, está sob a custódia de um psiquiatra amigo de seu pai. Qualquer um desconfiaria de uma situação dessas e faria o que ele fez. Aliás, o "resgate" que ele pede por seu irmão não seria digno de um "vilão que se transforma no decorrer do filme" (como dizem por aí). Ele pede o justo: metade do valor. Está falido e, nessa altura, todo centavo importa. Por outro lado, Raymond (o "mocinho") não tem a menor noção do valor do dinheiro e resiste a aproximar-se de Charlie a todo custo (depois se descobre o por quê). Nenhum personagem se "transforma" no decorrer do filme (continuo batendo nesta tecla, pois foi o que mais ouvi e li por aí a respeito de Rain Man). Eles apenas se descobrem ao longo da jornada rumo a L.A. E isto é o que há de mais belo nessa obra, delicadamente construída para realçar o laço afetivo mais valioso que nós temos: a família.
Representando o papel-título temos ninguém menos que Dustin Hoffman, talvez no principal trabalho de sua carreira (o que lhe rendeu seu segundo Oscar). Dele, aliás, veio a idéia de transformar Raymond num autista. No roteiro original, ele era apenas um homem feliz. Na réplica, o ainda "iniciante" Tom Cruise. Um pouco sem sal, talvez. Na verdade, eu sempre achei o Tom Cruise um pouco sem sal. Mesmo assim é, sem dúvida nenhuma, seu melhor trabalho. Provavelmente auxiliado por Hoffman que, numa detalhada e profunda construção de personagem, transforma a idéia superficial de Morrow numa história de vida.
RAIN MAN
(Rain Man)
Lançamento: 1988 (EUA)
Direção: Barry Levinson
Elenco: Dustin Hoffman, Tom Cruise, Valeria Golino, Gerald R. Molen, Jack Murdock, Michael D. Roberts, Ralph Seymour, Lucinda Jenney e Bonnie Hunt
Gênero: Drama
SINOPSE:
Um jovem yuppie fica sabendo que seu pai faleceu. Eles nunca se deram bem e não se viam há vários anos, mas ele vai ao enterro e quando vai cuidar do testamento fica sabendo que herdou um Buick 1949 e as roseiras premiadas do seu pai, sendo que um "beneficiário" tinha herdado três milhões de dólares. Fica curioso em saber quem herdou aquela fortuna e descobre que foi seu irmão, que ele desconhecia a existência. O irmão dele é autista, mas pode calcular problemas matemáticos complicados com grande velocidade e precisão. O yuppie seqüestra seu irmão autista da instituição onde ele está internado, pois planeja levá-lo para Los Angeles e exigir metade do dinheiro, nem que para isto tenha que ir aos tribunais. É durante uma viagem cheia de pequenos imprevistos que os dois se compreenderão mutuamente e entenderão o significado de serem irmãos.
Trailer de Rain Man (1988)
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